Igreja Batista Memorial em Jardim Catarina

Curando o Tradicionalismo pela Palavra (01/02/2015 – manhã)

SÉRIE: CURADOS PELA PALAVRA – 05/07
CURANDO O TRADICIONALISMO PELA PALAVRA
mensagem pregada pelo Pr. Acyr Júnior
“Certo sábado, quando Jesus estava ensinando numa sinagoga, viu uma mulher que andava encurvada havia dezoito anos. Ela tinha um espírito que a mantinha doente e era incapaz de endireitar-se. Chamando-a para perto, Jesus disse: Mulher, você está curada da sua doença! Ele impôs as mãos sobre e imediatamente ela pôde endireitar-se, e começou a louvar a Deus! Porém, o dirigente da sinagoga ficou muito indignado com aquilo, pois Jesus a havia curado no dia de sábado. “Há seis dias na semana para trabalhar. Esses são os dias para vir em busca de cura, e não no sábado!”, disse para a multidão. Mas o Senhor respondeu: Hipócritas! Vocês também trabalham no sábado! Vocês não desamarram no sábado o seu boi ou o jumento no estábulo para dar-lhes água? E está errado que eu liberte esta mulher judia de dezoito anos que ficou presa por Satanás, só porque hoje é sábado?” (Lucas 13.10-16)
A quinta enfermidade que diagnosticamos na igreja de hoje é o tradicionalismo religioso, o apego exarcebado às formas e a escravidão às formas ideológicas das religiões e denominações do nosso tempo. A religiosidade tem sido um grande obstáculo à vivência do puro Evangelho, à saúde integral da igreja e ao cumprimento cabal da sua missão evangelizadora. Por deixar-se dominar pelos dogmas, costumes e até pelas estruturas, a igreja acabou por comprometer sua identidade, sua mensagem e sua liberdade.
Mais grave ainda é o modelo de comunidade que emana deste contexto de religiosidade. Ela corre o risco de prejudicar mais do que abençoar as pessoas. Ele corre o risco de adoecer mais do que de trazer cura às pessoas. O impacto de comunidades assim na sociedade é devastador. A igreja, que deveria preparar pessoas que oferecessem cura para as estruturas e organismos sociais, acaba enfermando-as e, com isso, prejudicando de forma grave a sociedade em que vive.
O que fizeram do sonho de Jesus para Sua igreja? Às vezes sou levado a imaginar que a atitude de Deus, ao ver no que se tem tornado a Sua igreja, seja a seguinte: frustração e decepção. Sem dúvida, urge a necessidade de cura. Devemos clamar ao Médico dos médicos que cura a Sua igreja, que arranque de seu interior, com raiz e tudo, as toxinas e as doenças que se alojaram na agência do Seu Reino na terra.
Vejamos agora como o tradicionalismo religioso, especialmente o de matriz fundamentalista, prejudica a igreja do Senhor Jesus em nossos dias. Usando apenas o verso 14, gostaria de apresentar alguns sintomas da doença que o tradicionalismo religioso provoca na vida da igreja:
“Porém, o dirigente da sinagoga ficou muito indignado com aquilo, pois Jesus a havia curado no dia de sábado. “Há seis dias na semana para trabalhar. Esses são os dias para vir em busca de cura, e não no sábado!”, disse para a multidão.”  (Lucas 13.14)
O tradicionalismo religioso dos nossos dias…
1. Torna a igreja INSENSÍVEL
No texto que lemos há apenas um flash na vida de uma mulher cujo nome não nos é revelado. Sabemos apenas a sua condição sofrida de vida. Podemos extrair do texto o sofrimento dessa mulher nas seguintes dimensões:

  • Dimensão EXISTENCIAL – vivia cabisbaixa, andando encurvada pelas ruas; mulher, pobre e doente. Vida difícil e cheia de necessidades.
  • Dimensão RELIGIOSA – relegada, de fato excluída. Na interpretação de muitos da época, era pecadora castigada por Deus de forma vexatória.
  • Dimensão SOCIAL – desprovida de recursos, de amigos e perspectivas. Mulher sem sonhos e sem dignidade. Mulher olhando para o chão.
  • Dimensão PSICOLÓGICA – desvalorizada, baixa auto-estima. Mulher sem nome, sem valor e sem carinho. Mulher sem vida que valesse a pena ser vivida.

Essa mulher teve, naquele dia, uma experiência transformadora com Jesus. Foi curada, liberta e devolvida ao seu ambiente de vida com um tesouro inalienável: uma vida restaurada e um testemunho para compartilhar. Uma mulher alegre e digna; cheia de autoridade e de verdade.
É exatamente neste contexto que emerge o vilão da religiosidade. O verso que lemos conta que o chefe da sinagoga ficou indignado ao ver que Jesus estava curando num dia de sábado e repreendeu a multidão. Mas o Senhor Jesus interveio desmascarando-lhe a natureza hipócrita. Por causa da cegueira religiosa aquele chefe da sinagoga não conseguia ver as necessidades de uma mulher sofrida. O mais importante era cumprir os protocolos da religião.
O tradicionalismo religioso, uma vez presente na igreja, torna-a insensível diante das mazelas e das misérias que maltratam, corrompem, denigrem e violentam seres humanos menos favorecidos. A igreja segue realizando seus cultos e observando seus rituais, como se nada estivesse acontecendo do lado de fora do templo. Somente depois de ser curada e novamente envolvida com a realidade humana que a cerca, a igreja poderá cumprir seu papel de transformar o mundo.
O tradicionalismo religioso dos nossos dias…
2. Faz da igreja um lugar SEM VISÃO
O mesmo verso também aponta para a cegueira espiritual que toma conta daqueles que são tomados pelo tradicionalismo. O tradicionalismo religioso deixou aquele chefe da sinagoga completamente sem visão. O tradicionalismo religioso afeta a visão da igreja. Ela puxa o olhar da igreja para o passado e funciona como uma espécie de âncora, prendendo-a e impedindo o seu avanço.
Em João 11, no contexto da morte de Lázaro, aflora a religiosidade de Marta, no dogmatismo judeu sobre os eventos da fé, enraizados na mente daquela mulher. Marta lamentou-se do fato de Jesus não haver chegado antes, a tempo de evitar a morte de seu irmão. Em sua resposta, Jesus falou sobre ressurreição e aí Marta expôs a sua visão, acorrentada ao ensino judaico sobre a ressurreição: “Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia”.
Jesus estava dando uma notícia para àquela hora e a tradição teológica que jazia na mente de Marta, transferia a notícia para o último dia. Ou seja, o apego ao dogma elaborado pelos homens impediu que Marta entendesse e vislumbrasse a maravilha que lhe era anunciada.
Quando a igreja está presa ao tradicionalismo religioso não consegue assimilar e enxergar as maravilhas de Deus para sua vida aqui e agora. Parece que qualquer ênfase nas proezas de Deus hoje pode ofuscar o brilho do porvir. Isto é um absurdo! Assim, a religiosidade é a âncora que a igreja precisa recolher para prosseguir.
Quando Jesus ouviu a ponderação de Marta e avaliou sua convicção teológica, fez uma declaração que se destacaria em projeção milenar: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”. Marta projetou para o futuro a ideia de ressurreição, mas Jesus Cristo, que não cabe em nenhuma dogmática humana, trouxe para o presente aquilo que a tradição religiosa insistia em colocar num futuro longínquo.
Para trazer o extraordinário de Deus para o ordinário dos homens é que existe a igreja de Jesus. E ela fará esta obra através da sua pregação, do seu culto e de seus múltiplos ministérios. Só o fará, no entanto, se receber cura da religiosidade que a tem cegado e retido pela Palavra de Deus.
O tradicionalismo religioso dos nossos dias…
3. Mostra uma igreja que canta, mas NÃO ADORA
É interessante notar que aquele chefe da sinagoga estava muito mais preocupado com a forma do que com o coração. Seu tradicionalismo religioso adoeceu sua vida por dentro. Cumprir ritos religiosos não é sinal de um povo que adora a Deus de verdade!
Em João 4, no diálogo de Jesus com a mulher samaritana, vem à tona a questão da adoração. A mulher apresenta uma pergunta que assinalou o ponto mais importante da vida, que é a adoração. A questão levantada foi de natureza geográfica: qual o verdadeiro lugar onde se deve adorar a Deus? A resposta de Jesus foi de natureza teológica: o que importa não é o lugar onde o adorador está, mas como ele está, pois Deus é onipresente.
A pergunta da mulher revelou seu direcionamento religioso segundo o qual o “lugar de adoração que é santo e não o adorador”. O importante, para ela, era que o indivíduo se relacionasse com o LUGAR CERTO; mesmo estando longe de Jerusalém, ele deveria inclinar-se em sua direção para orar.
Mais uma vez a religiosidade é a responsável pela distorção no conceito e na consequente prática da adoração daquela mulher e de seus contemporâneos. O tradicionalismo tem tomado posse de estilos musicais muito usados tempos atrás, mas menos usados hoje, como se fossem os únicos estilos dignos de serem praticados para o louvor de Deus. O resultado disso tem sido muitas divisões desnecessárias na igreja, com implicações sérias nos relacionamentos e até no contexto familiar dos membros. Tudo em função desta confusão entre cantar e adorar; ou entre estilos e conteúdos musicais. Sempre que a forma é mais valorizada do que o conteúdo, o esforço em louvar a Deus é em vão. Foi o próprio Jesus quem disse isso:
“Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens.” (Mateus 15.8-9)
Fica bem claro que o que valida o nosso louvor a Deus não é o exterior ou a forma, mas sim o coração. Pior ainda que uma visão míope do louvor é uma atitude esquizofrênica de culto. Muitos veem o culto como um show espiritual, outros veem como um ato de extrema quietude, bem próximo ao fúnebre. Há quem aprecie um culto com músicas eruditas e clássicas; outros já preferem algo mais popular ou mais regional.
A enfermidade pode estar exatamente na postura diante do outro, diante daquilo que nos é diferente. Faz parte da religiosidade sentir-se “dono da luz”. Mas tal atitude só nos distancia ainda mais da adoração e do culto que devemos prestar a Deus. O teólogo anglicano William Temple disse o seguinte: “Cultuar é avivar a consciência pela santidade de Deus, alimentar a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação pela beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus e devotar a vontade aos propósitos de Deus”.
Um culto assim, pleno e profundo, marcado pela ação de Deus. Um culto que edifica e abençoa. Um culto que agrada o coração de Deus!
Conclusão:
Há uma diferença entre tradição e tradicionalismo. Tradição é a fé viva daqueles que já morreram, e tradicionalismo é a fé morta daqueles que ainda vivem. Querida igreja, a Palavra de Deus é o instrumento que Ele deseja usar para curar a Sua igreja da religiosidade.
A igreja curada do tradicionalismo religioso consegue ser íntima do Senhor e passa a influenciar e transformar a realidade à sua volta. Começa a ser mais igreja, mais família, mais comunidade e menos instituição, denominação e religião. A igreja precisa ser uma agência promotora de vida, viabilizadora de projetos existenciais, uma comunidade terapêutica e vigorosa na luta pelo alargamento do Reino de Deus.
O tradicionalismo religioso dos nossos dias…
1. Torna a igreja INSENSÍVEL
2. Faz da igreja um lugar SEM VISÃO
3. Mostra uma igreja que canta, mas NÃO ADORA
Mas a palavra de Deus…
1. Torna a igreja SENSÍVEL às necessidades do mundo
2. ABRE OS OLHOS espirituais da igreja
3. Produz um povo que ADORA EM ESPÍRITO e EM VERDADE

 

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